#4 Eternidade Soterrada

Curadoria de Renato Menezes

Carmo Johnson Projects

“Quem conhece o ontem e o hoje, conhecerá o amanhã, porque o fio do tecelão é o futuro, o pano tecido é o presente, o pano tecido e dobrado é o passado”, diz um provérbio fulâni1 , que se aplica com inusitada precisão aos procedimentos artísticos de Alberto Pitta.

Há quatro décadas envolvido com a produção de serigrafias e estampas que colorem os desfiles dos mais emblemáticos blocos do carnaval negro-baiano, Pitta tem com os fios, os panos e as dobras a mais profunda intimidade, construída diariamente ao longo de sua vida. Observando as atividades de sua mãe, Mãe Santinha de Oyá, importante ialorixá de Salvador, que se dedicava aos bordados richelieu e à educação de crianças e adolescentes da comunidade de Pirajá – seguindo a vocação comunitária do candomblé –, Pitta viu desde cedo despertar seu interesse pelos panos e seu compromisso em agregar pessoas através das palavras.

Rapidamente ele entendeu que na tradição africana, da qual descende, a roupa não responde somente à necessidade utilitária de proteger o corpo; ela poderia ser igualmente um poderoso elemento significante, que inscreve o homem na natureza e o reconecta a seus ancestrais, afirmando-se como suporte da linguagem e dos marcadores sociais.

 
Carmo Johnson Projects