Carmo Johnson Projects

A construção dessa exposição se dá por meio das relações possíveis entre pertencimento, memória, habitar e deslocamento, a partir dos trabalhos de Julia Angulo, Kaya Agari e Talita Zaragoza.

Entendendo uma casa como um espaço de convivência, como é possível habitar universos tão distintos sob esse mesmo local, entendendo - ao mesmo tempo - as potências e as complexidades que surgem desse encontro?

Nesse sentido, o espaço expositivo surge como um mediador entre os trabalhos das três artistas, respeitando tanto as individualidades de seus trabalhos, quanto trajetórias pessoais.

Kaya Agari, artista e ativista indígena da etnia Kurâ Bakairi apresenta uma pesquisa que evidencia a tradição de seu povo, cujos grafismos representam as pinturas corporais utilizadas em rituais da aldeia, no qual cada uma das pinturas apresentadas na mostra trazem uma pintura para cada gênero e idade, e que são passados de geração em geração, como forma de preservação cultural.

Se, por um lado Kaya afirma a necessidade de reafirmar seu território e local de pertencimento, quase que em oposição, Talita Zaragoza possui uma pesquisa que explora definições de espaço e fronteiras físicas e imaginárias, criando abstrações que diluem essas fronteiras, transformando-as em uma espécie de paisagens.

Enquanto os trabalhos de Kaya e Talita se aproximam e se distanciam na mesma medida, em uma espécie de espelhamento entre a realidade e uma utopia de futuro, Julia Angulo coloca essas, entre tantas outras questões no divã, em um convite a processarmos o mundo ao nosso redor, ora de forma livre associativa, ora encarando as palavras que cercam nossas memórias, na tentativa de nos percebermos parte desse todo que nos cerca.

Dessa forma, tomo o ambiente da casa como um espaço o qual narrativas distintas buscam aproximações entre si, mas sem ultrapassar o limite do outro; como em uma metáfora entre o íntimo e o coletivo. Mas, essencialmente, trago a ideia de como conviver entre diferenças em um mundo cujas disputas narrativas seguem cada vez mais acirradas.

Ao menos aqui, nesta casa, estabelecemos poéticas que façam com que essas convivências sejam possíveis, em um exercício de imaginar que assim seja em um breve futuro.

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