SP–Arte: Rotas Brasileiras, aconteceu de 24 a 28 de agosto de 2022 na ARCA, na Vila Leopoldina, em São Paulo.
Com foco em projetos selecionados, sejam eles solos ou coletivos, a feira busca estreitar laços entre agentes das cinco regiões do país, valorizando a produção fotográfica e artística de todo o território nacional. Segundo Fernanda Feitosa, diretora da SP–Arte, “existe uma produção de altíssima qualidade que vem da Amazônia, do Vale do Jequitinhonha, de capitais e interiores em diferentes regiões a qual nem sempre temos acesso. Rotas Brasileiras é um convite a essa imersão”.
Carmo Johnson Projects apresenta para a primeira edição de Rotas Brasileiras o projeto Cantos Huni Kuin e Tambores de Axé, com curadoria de Paula Borghi, apresentando os artistas Alberto Pitta, Bruno Novelli, Kássia Borges e MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin) Cantos Huni Kuin e Tambores de Axé.
Os espíritos vivos estão presentes tanto nos cantos das cerimônias Huni Kuin, como nas festividades de candomblé. Das casas de rezo da floresta amazônica aos terreiros baianos, a sinestesia entre música e imagem ganha corpo nos trabalhos de MAHKU, Bruno Noveli, Kássia Borges e Alberto Pitta, presentes no stand de Carmo Johnson Projects nesta SP-Arte.
MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), idealizado por Ibã Hunikuin em 2012 no Acre, apresenta pinturas vivas e intensas que dão visualidade aos cantos cerimoniais. São pinturas que mantêm vivas suas tradições e cultura. Cumpre salientar que a venda de suas obras garante a aquisição de terras ao redor de sua aldeia, a fim de protegê-las do desmatamento e assegurar a preservação da floresta. Um movimento artístico e ativista.
Já Kássia Borges (Kassia Rare Karaja Hunikuin), também integrante do MAHKU, apresenta um totem composto por vasos de vasos de cerâmica pintados com cores vivas e imagens de vários tipos de jiboia. Uma escultura que convida o público a dar uma volta 360° ao seu entorno, acompanhando o movimento das jiboias e dos vários tipos de grafismos corporais, principalmente da cultura Karajá; referente a etnia da artista.
Em vivo diálogo com o MAHKU, Bruno Novelli apresenta duas pinturas/desenhos em grande formato que homenageiam os povos Huni Kuin e tecem relações entre mundos: dos povos originários e do homem branco. São imagens de animais, muitas vezes esvanecendo os contornos que os definem, ao ponto de não se identificar se o animal é uma onça ou uma pessoa. É notável uma referência ao animismo, que parte do maravilhamento do artista com suas experiências com os povos da floresta e suas medicinas de poder.
Concomitantemente, Alberto Pitta apresenta pinturas que resgatam sua ancestralidade africana ao som das imagens dos tambores de axé, sobretudo ao que se refere sua experiência com o carnaval dos blocos afro em Salvador. São criações artísticas que partem de suas estampas afro-baianas, com simbologias que se inspiram nos terreiros de candomblé, no afoxé, na cultura Yorubá e nos desenhos rupestres.
Desta forma, animais como serpentes, macacos e onças, assim como plantas de poder, seres encantados e espíritos da floresta, compõem visualidades de mirações. Enquanto que, padronagens que discorrem sobre a origem do mundo por meio de imagens rupestres, criam pontes que conectam os blocos-afro de Salvador com a mãe África. É desta forma que “Cantos Huni Kuin e tambores de Axé” apresenta, sobre um chão de folhas sagradas e paredes na cor de terracota, o encontro dos rituais Huni Kuin com os cortejos afros. São cantos e tambores avivados por meio de imagens próprias da arte visual.
Paula Borghi, curadora