Dentro da proposta itinerante deste projeto, Bruno escolheu a dedo onde queria expor sua mais recente produção de pinturas - a casa Cunha Lima no Pacaembu. Projetada pelo arquiteto Joaquim Guedes, em 1958, foi gentilmente cedida pelo proprietário para essa exposição.
As características dessa arquitetura brutalista, introspectiva e subjetiva ao conceito de que a forma segue a função, ressoaram aos sentidos de Bruno. De dentro para fora.
Bruno é um artista que aprofunda interesses entre os mais díspares, que são processados deliberadamente por meio da pintura e do desenho.
O grafismo indígena tem uma relação com o artista, desde a época que integrou o Coletivo Upgrade do Macaco, em Porto Alegre. Com ações desenvolvidas na rua, experimentou tipografias indecifráveis, relacionadas a pichação e que ainda estão presentes sobre tela ou parede - indiferentes agora.
O inconsciente coletivo, de potência exuberante, é outra camada explorada por Bruno, através de experiências em rituais indígenas da ayahuasca. O subconsciente desvenda arquétipos de imagens que são apuradas pela volta à consciência, expondo o aspecto visionário, paradisíaco e brutal de sua produção.
A física quântica e os estudos vibracionais relacionados à origem do universo, à potência de expressões da natureza - única palpável e relacionada a uma anarquia sagrada - são estratos (outras camadas) na pintura de Bruno. Figuras icônicas e paisagens surreais, um caminho híbrido para sua produção em geral.
Os interesses diversos do artista expressam-se, ainda, através de recursos extraídos da história da arte, de um modelo de mundo (ou de crença e valores), resgatados na arte medieval, em que pira na simbologia oculta, na busca por elementos chapados e sombrios e, por vezes, contrastados pela construção humanista da arte renascentista, com camadas de pintura que favorecem a luz e uma composição monumental.
Essa extensa bagagem de saberes - transaberes - confluem no trabalho de Bruno, o qual é conceitualmente representado pelas ressonâncias entre filosofia, ciência, mística e arte. São elementos re-significados por Bruno, através de estruturas pictóricas ligadas a cultura das mídias digitais e, essencialmente, da tecnologia.
Carmo Johnson